Poesia

Mãe



É quem carrega um dom (recebido dos céus)
Quem dá seu colo (mesmo quando o filho cresce)
Quem carrega outra vida no coração (em todo o tempo)

É quem segura firme as pequenas mãos
Quem aguenta firme quando é preciso dizer não

É quem acalenta na hora do choro
Quem se diverte junto e ri até perder o fôlego

É quem tem uma vontade imensa de pintar um mundo mais colorido 
Quem tem o sonho de derrubar todos os muros (de separação, de preconceito)

É quem inventa mil histórias, ou apenas, reconta a preferida pela milésima vez
Quem passa a noite vigiando a febre, ou apenas, apreciando a tranquilidade do sono

É quem leva para molhar os pés no mar, e se pudesse, levaria também para pular nas nuvens 
Quem afasta os pesadelos, e se pudesse, afastaria todos os medos

É quem cuida das feridas, sem a pretensão de cicatrizá-las
Quem ouve as dúvidas, sem a pretensão de decidir o caminho

É quem quer livrar das dores, mas sabe permitir os tombos necessários
Quem quer estar junto, mas sabe o tempo de deixar partir

É quem cobre de beijos, cafunés, cuidados e conselhos
É quem requer juízo, verdade e respeito

É quem entende as coisas do mundo (de tudo um pouco) 
Quem sabe tudo sobre o mundo do filho (mesmo quando está escondido)

É quem briga, defende
Quem se emociona, se alegra, agradece

É quem dá bronca com razão
Quem dá abraço sem motivo
Quem dá de si, todinha, sem nada pedir em troca

É quem disfarça o cansaço, a dor, as preocupações
Quem chora baixinho, na escuridão, antes de dormir
Quem renova as forças, toda manhã (como será possível?)

É quem teme o futuro, mas não perde a esperança
Quem se decepciona, mas não recusa o perdão
Quem corrige, mesmo com o coração sangrando

É ação, reação
Razão, emoção
Uma coisa de cada vez
E às vezes, todas juntas

E mesmo quando não for, é tudo.
A base, o norte, o abrigo

Mãe
Quem ama.
Com cuidado terno.
Com amor eterno.

Poesia

Quer uma beijoca?



Vi essa tirinha do Bichinhos de Jardim e pensei no meu sobrinho Nicholas, de 2 anos. Ele adora beijar! Ele beija quem é da família (principalmente o primo Biel), os amiguinhos (mesmo que tenha acabado de conhecer), seus brinquedos e se deixar, beija até o cachorro.

Deve ser típico de criança da idade dele, mas como eu acho lindo vê-lo se levantando nas pontinhas do pé para beijar seja lá quem for!

Essa tirinha também me fez pensar no outo lado. Em quantas pessoas estão com uma vontade imensa de receber ou dar um carinho, mas que se contém. Não sei se é porque são tímidas ou porque se acham fortes.

Mas a questão é que todo mundo precisa de um afago, uma palavra amiga, um abraço, um olhar gentil, um “bom dia”.

Não tem graça nenhuma estarmos no meio de muita gente, e ainda assim, se sentir invisível. Estar numa roda animada de conversa, mas tristes porque ninguém nos olha nos olhos.

Assumir nossa carência e que precisamos do outro, não é nenhum problema. Afinal, fomos feitos para estarmos juntos e como diz o poeta-músico “É impossível ser feliz sozinho” (Tom Jobim).

Então, o convite de hoje é para que você saia por aí dando beijocas em quem você quer bem.

E naqueles dias em que se sentir tão só, não tenha receio de assumir sua carência. Sem vergonha alguma, peça colo e cafuné. Certeza que haverá pessoas por perto que te acolherão com muito carinho.

*Texto meu originalmente publicado em Mais Viver Unimed Paulistana, em 4/set/2013

Poesia

Flores aos Vivos

Houve um tempo em que para chegar ao trabalho eu passava em frente ao Cemitério da Consolação. Um cemitério de mais de 150 anos, e que, inclusive, é considerado um marco turístico de São Paulo. Por perto, assim como em tantos outros cemitérios, diversas barraquinhas vendiam flores. Faz parte de muitos rituais de despedida a entrega de flores aos mortos e por isso, é fácil entender a escolha desse ponto estratégico de vendas.

Entre tantas barraquinhas, uma delas me chamou a atenção. Nela havia uma placa dizendo: Dê flores aos vivos.

Claro que por trás dela há um interesse comercial. Mas vejo também um conselho. Por que deixar um presente tão lindo como as flores, que mostram esperança, carinho e amor, para ocasiões tão raras ou somente para despedidas?

Sabe, não vejo problema algum em levar flores a alguém querido que partiu. No entanto, inevitavelmente penso: e em vida, quantos arranjos de flores será que essa pessoa recebeu?

Meus pensamentos não se encerram por aqui. As flores são, no caso, apenas a ponta do iceberg. Em um velório, enquanto vejo as lágrimas e ouço os cochichos, fico pensando: Mas e em vida, quantas declarações de amor será que ele ouviu? Quantos pedidos de desculpa? Quantas dessas pessoas que estão aqui nesse momento ele não via há anos?

Ver uma frase tão simples me fez pensar nessas muitas coisas que deixamos para fazer depois, e quando vemos, já não há mais tempo ou sentido.

Muitas pessoas estão levando flores aos túmulos frios, escrevendo cartas que não serão lidas, dizendo o que sentem para pessoas que já partiram. E eu não quero ser uma delas.

Que a beleza das flores seja um presente em dias comuns. Que qualquer momento seja o momento certo para abrir o coração e dizer o que sentimos. E que ao nos despedir de alguém possamos ter o conforto de saber que desfrutamos da sua companhia para valer.

Olhei no relógio e o dia já se foi
E eu não disse te amo pra ninguém
Até tive chances mas deixei pra depois…
(Tempo para amar – Thiago Grulha)

*Texto meu também publicado em Mais Viver Unimed Paulistana