Poesia

Dores ocultas

Ele sorria,
Contando história,
Empolgado,
Descontraído.

O que ninguém via
Era o poema inacabado,
O cansaço de ser,
O suspiro de esgotado.

O que ninguém via 
Era a mensagem que deixou para depois
O desejo que ficou para depois
O compromisso que adiou – outra vez.

Sua voz cada vez mais alta, 
Tentando calar o grito interno,
O pensamento acelerado,
O choro de dentro.

Sua voz cada vez mais baixa,
Palavras minguadas,
Sussurro…
Alguém consegue ouvir?

Setembro passou,
E ele seguiu
Com suas dores ocultas, disfarçadas…
Alguém o alcançará para segurar sua mão?

Poesia

O vento, as folhas e a árvore

O vento sopra, as folhas caem, mas a árvore permanece
 


O vento sopra.
Há dias que é brisa refrescante.
Mas há dias que é um verdadeiro vendaval.
E as folhas não resistem.
Elas são levadas com o vento, sem piedade.
Uma a uma, elas se soltam.
E há dias que parece que não sobrará nenhuma.
Mas mesmo quando as folhas se vão, a árvore fica.
Ela pode até pensar que irá se partir.
Ela pode até se inclinar.
Mas ela é forte. Ela é resistente. Ela permanece.

E assim é a vida.
As aflições nos sacodem.
As decepções nos agridem.
As dúvidas e os medos sopram sobre nós.
É o cruel vento da diversidade tentando levar embora nossas folhas de esperança, de tranquilidade, de amor, de alegria.
E há dias que ele consegue.
Ficamos como árvores secas. Sem graça. Sem cor.
Mas ainda assim, por mais fracos e desesperançados que estejamos,
É possível resistir. Permanecer.
Porque esse é o tempo do crescimento.
Da mudança.
Da transformação.
Esse é o tempo de confiar no Criador,
Sabendo que por mais forte e agressivo que seja o vento, as raízes estão firmadas nEle.
E Ele é mais forte. Seu amor é o mais resistente.
Esse é o tempo da fé.

Veja! O vento aquietou.
Novas folhas estão surgindo.
E junto com elas, frutos.
E as mais belas e coloridas flores.

Poesia

De onde vem esse gotejar?


Ouço um gotejar. 
Às vezes constante, às vezes discreto.

Será que vem de algum rio, 
seguindo seu caminho,
escorrendo entre as pedras?

Será que vem das copas das árvores,
gotas preguiçosas,
que sobraram da pesada chuva? 

Ou será que são aquelas que vem de dentro?
Se dos olhos, da alma ou do coração, 
já não saberia dizer.

Uma por uma, eu as conto.
Mas já perdi a conta!

E uma por uma, elas me contam.
Ora sobre a dor (de quem magoado foi).
Ora uma tristeza (de quem para trás ficou). 
Ora uma decepção (de quem cegamente confiou).

Ou mesmo, quem sabe, me contam
uma história de amor (daquelas que um dia sonhou).

Mas às vezes, elas são só silêncio.
Apenas ouço o seu gotejar. 

Talvez tenham medo 
de se revelar.
E ainda mais medo de não encontrar 
quem as possa enxugar.